Companheiros da Acima, com referência ao nosso passeio de sábado, veja o resumo de minucioso relato (década de 80) em manuscrito de autoria do geólogo e engenheiro do DER, Artur Jardim de Castro Gomes.
"A Lapa Grande situa-se no fundo da excelente fazenda desse nome, na parte inferior do maciço calcário, penetra-o por larga boca de altura considerável e largura regular; grosseiramente 12 a 15 metros de alto, por cerca de 10 de largura. Sob o solo irregular, brota um pequeno córrego subterrâneo que vem do interior da lapa. Logo à entrada, um grande bloco de calcita e cujo calcário apresenta frinchas e lóculos, em cujo interior foi encontrado um grande dente de herbívoro e uma mandíbula também de herbívoro de porte médio jovem, com os molares moedores bem desenvolvidos e os incisivos com ângulo para diante característico. Não foi determinada a família animal a que pertenciam esses fósseis. No solo da lapa foram achados seixos rolados, alguns silex, atestando movimento interior de águas, em volume tal, que produziram o alisamento das paredes do canal principal da lapa. Logo após esse primeiro espeleotama, há outro maior, no interior da abertura, ainda iluminada pela luz natural, que penetra até a curva próxima. O material é o mesmo da anterior. Penetrando-se no amplo corredor que aí tem início, e se adentra para o âmago da montanha, deixa-se para trás esse pórtico em que há centenas de assinaturas de apelidos tradicionais de Montes Claros. O corredor vai-se encurvando para direita, com a luz dia minguando; até que a treva toma conta do ambiente. É preciso dispor de aí por diante de bons luzeiros do contrário nada se enxergará na treva e no silêncio absoluto. Reintrâncias, franjas de calcito, as vezes translúcidas, mini-ruídos estranhos aparentemente do interior da treva "um que" de mistério. Há uma cascata petrificada que se mostra reentrâncias à esquerda. Foi ali, pouco abaixo, que Karl Frisdrich Von Martius e Johann Baptist Von Spix em 1818 colheram um fóssil que deverá estar na Alemanha entre as centenas de coleções zoológicas, botânicas, entomológicas, geológicas e etnográficas. (...)
O grande corredor da lapa continua penetrando a montanha, dentro da rocha calcária, escura de piso irregular, mas transitável. As paredes e o teto, festonados em alguns trechos pelos estalactites e cortinas ou franjas, estalagmites, as paredes desse canal central em alguns trechos lisas, atestam a preeminência das águas correntes, na construção "surrealista" desse grande labirinto subterrâneo. A certa altura a boca de um corredor lateral que diverge do principal e dá franco acesso, talvez o que comunica a Lapa Grande com a Fazenda das Quebradas; ligação descoberta pelos alunos da Escola de Minas de Ouro Preto que realizaram seu mapeamento. O grande corredor continua até que o calor, conseqüente à diminuição do oxigênio e do desprendimento natural do gás carbônico vai aumentando. Assim, atinge o excursionista mais ou menos arrojado; um ponto distante à direita há depressões abaixo do piso do canal, que conduzem à nascente de água calcária e salobras, do córrego que corre por baixo do solo da Lapa Grande e aparece na entrada inicial. Um travessão de rochas secciona o grande corredor contínuo, nesse ponto. E nesse travessão, abrem-se três bocas menores, de prováveis corredores. Justamente aí, alguns membros da comissão tinham ameaças de dispnéia, outros inquietos com o aumento do calor tiveram desmaios. Não havia, portanto, condições de prosseguir aquela aventura subterrânea, da turma de alunos; guiando-se, ali com precauções, pois estavam no dito corredor da esquerda, anterior, um grupo meteu-se por ele, antes que percebéssemos: logo ouvimos vozes e ruídos vindos de dentro da pedra. Alarmados, temendo que se perdessem em labirintos desconhecidos que sabemos existirem, corremos ao desvio, tangendo os imprudentes para a via principal. Que alívio! Felizmente e afinal, regressamos ao ar livre, à luz, ao rumor de brisas nos ramos da grande gameleira. Lá permanece em algum corredor travesso o lago ou curso de água que, iniciando-se no rés do solo, vai prosseguindo até dar nado, enquanto o teto baixo, aflorando as águas. Os espetáculos da Natureza podem, em sua variedade, ser por vezes sinistros. Mas a luz, a maravilha das cores naturais a tudo enfeitam e conferem beleza. A ausência de luz chega a ser trágica."
assinado: Jardim (Artur Jardim de Castro Gomes)
Obs.: A extensão da Lapa não sabemos ao certo; consta que já se percorreram oito quilômetros e não se conseguiu encontar o fim.
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